ARETÉ

22.02.2016 -

Programação dos jogos (séc V)

Primeiro dia

Pela manhã, os atletas e a multidão, já reunidos em Olímpia, dirigem-se ao edifício do Conselho, o Bouleutérion, onde um javali é sacrificado a Zeus.
Diante da estátua de Zeus Hórkios, os árbitros e seus auxiliares, os atletas, os treinadores e familiares prestam juramento de que não cometerão nenhuma infração às regras. Depois desse momento solene, era feito o sorteio dos pares e da sequência dos enfrentamentos nas provas. O resultado e a ordem dos grupos eram afixados numa tabela no edifício, para o conhecimento de todos.

À tarde, ocorriam duas competições muito interessantes: aquelas que determinariam os trompetistas e arautos durante os jogos. Essas duas funções, além de ajudarem o público a acompanhar o desfecho das competições, davam um colorido e pompa ao espetáculo. Os trompetistas vitoriosos tocavam seus trompetes no início e no final das competições; os arautos, com suas vozes potentes, anunciavam o nome, a filiação e a cidade de proveniência dos vencedores.

Ao fim da tarde, as delegações das cidades ofereciam sacrifícios nos altares dos templos.
No início da noite, as chamas e tochas acesas em todos os cantos iluminavam os rostos alegres. Poetas e escritores recitavam suas obras, outros cantavam acompanhados de liras. Enquanto as atividades de confraternização adentravam a noite, os atletas descansavam supervisionados por seus treinadores.

– E onde ficavam alojadas todas as pessoas que vinham aos Jogos Olímpicos? – quis saber Pedro.

– Como vocês podem notar – respondeu Alberto –, o clima aqui na Grécia, nessa época do ano, é quente. O principal problema era o calor no decorrer do dia e os mosquitos; durante a noite a temperatura é agradável.

Os visitantes montavam suas tendas em toda a planície ao redor do santuário, mas dormir ao relento ou improvisar um abrigo era uma opção perfeitamente suportável para os menos abastados. Imaginem o clima de festa que devia tomar conta desse vale.

Lembrei-me dos acampamentos de que eu havia participado com meus pais e amigos. O improviso das instalações e a convivência com outras pessoas junto à natureza despertavam em mim, nos meus irmãos e em nossos amigos uma atmosfera de bem-estar, confraternização e divertimento.

Com milhares de pessoas acampadas, ouvindo música, conversando e cantando ao cair da noite, devia ser bastante divertido.

Segundo dia

O estádio amanhecia lotado. Sob as ovações dos espectadores, os hellanodíkai entravam em procissão vestindo mantos púrpura e acompanhados dos arautos, trompetistas e outros auxiliares. Tomavam seus lugares nos assentos localizados no centro da lateral direita do estádio; no lado oposto sentava-se a sacerdotisa de Deméter.

Têm, então, início as competições infantis. São disputadas as provas de corrida, luta, pugilismo e pancrácio. Os arautos anunciam os vencedores ao fim de cada prova e estes recebem uma folha de palmeira. Uma após a outra, as provas infantis são disputadas e tomam todo o primeiro dia. Ao final da tarde, os vencedores são carregados pelas delegações até as tendas e seus feitos são celebrados até tarde da noite.

Terceiro dia

A multidão amanhecia no hipódromo em volta da pista onde seriam disputadas, uma após a outra, todas as provas hípicas. Depois, todos retomavam seus lugares no estádio e lá permaneciam durante toda a tarde, quando eram realizadas as provas que compunham o pentatlo: arremesso de disco, salto, lançamento do dardo, corrida e luta. Somente no final da tarde havia a disputa entre os dois finalistas pelo título do pentatlo, decidido numa prova de luta.

Quarto dia

O quarto era o dia mais sagrado. Coincidia com a primeira lua cheia depois do solstício de verão, a noite mais curta do ano. A primeira atividade da manhã era a grande oferenda a Zeus: a hecatombe. Cem bois eram degolados diante do altar e suas coxas, queimadas, como oferenda de todos os eleios; seguiam-se mais sacrifícios de animais pelas delegações das

outras cidades-estados. As cerimônias provavelmente transcorriam ao som de acordes musicais e cantos.

Terminadas as cerimônias, todos se dirigiam ao estádio, onde eram disputadas as provas daquele dia. Primeiramente era disputada a mais célebre: o stádion, corrida de curta distância, aproximadamente 190 metros.

O vencedor dessa prova emprestava seu nome às olimpíadas daquele ano.

Depois, ocorriam as provas de média e longa distância. À tarde, aconteciam as competições de luta e pugilismo, quando finalmente os arautos anunciavam o vencedor da última prova: a corrida com armas.

Ao cair da noite, os festejos recomeçavam.

 – A prova de curta distância era considerada a mais importante? – perguntou Pedro.

– A prova do stádion, isto é, a corrida de curta distância, era aquela que dava ao vencedor a maior distinção, talvez não por ser considerada do ponto de vista atlético a prova mais importante, mas sim porque era a prova mais antiga. Quando as olimpíadas foram iniciadas, essa foi a única prova, durante as treze primeiras. Por outro lado, o pentatlo revelava os atletas mais completos, pois, como vimos, eles deveriam competir e ter um desempenho ao menos razoável em cinco modalidades.

Quinto dia

O último dia era marcado por solenidades e reverências aos deuses. Os atletas vitoriosos se reúniam junto ao templo de Zeus, observados pela multidão emocionada: os arautos chamavam cada um dos vencedores pelo nome, filiação e cidade de origem. O helladodíke mais velho levava à cabeça de cada um dos vencedores uma coroa de ramos de oliveira.

Terminada a cerimônia de coroação, os vencedores, ainda portando as coroas, se dirigiam ao Pritaneu para um banquete em sua homenagem.

Durante a tarde e noite adentro, toda a região de Olímpia fica em festa.

Ressoam canções, hinos e peãs. Os Jogos Olímpicos  chegam ao fim.

* Artigo foi extraido do livro Uma viagem à Grécia: os jogos olímpicos e os deuses, de Stylianos Tsirakis.

DEIXE SEU E-MAIL

para receber novidades