Μέμνησο λουτρών οίς ενοσφίσθης
Ξύπνησα με το μαρμάρινο τούτο κεφάλι στα χέρια
Που μου εξαντλεί τους αγκώνες και δεν ξέρω πού να τ΄ακουμπήσω.
Έπεφτε το όνειρο καθώς έβγαινα από το όνειρο
Έτσι ενώθηκε η ζωή μας και θα είναι πολύ δύσκολο να ξαναχωρίσει.
Κοιτάζω τα μάτια. Μήτε ανοιχτά μήτε κλειστά
Μιλώ στο στόμα που όλο γυρεύει να μιλήσει
Κρατώ τα μάγουλα που ξεπέρασαν το δέρμα.
Δεν έχω άλλη δύναμη.
Τα χέρια μου χάνουνται και με πλησιάζουν
ακρωτηριασμένα.//
Recorda a sala de banho onde foste morto
Despertei com esta cabeça de mármore entre as mãos.
Cansa-me os cotovelos e não sei onde apoiá-la.
Caiu o meu sonho enquanto eu ia dele saindo
juntaram-se assim as nossas vidas e há de ser bem
difícil separá-las de novo.
Contemplei-lhe os olhos: nem abertos nem fechados
falo à boca o tempo todo prestes a falar
pego os zigomas que romperam a pele.
Já não tenho mais força
Minhas mãos desaparecem e voltam a mim
mutiladas
Vou ler alguns trechos de livros de NIKOS KAZANTZAKIS, autor grego nascido na ilha de Creta e falecido em 1957.
O primeiro texto é de Zorba, o grego, obra magistral que é baseada em fatos reais. Kazantzakis havia conhecido um trabalhador de minas, em 1917, em Prastova, de quem ficou muito amigo. Curiosamente, um intelectual como Kazantzakis, torna-se admirador de um homem do povo, rústico, que o ensinou a aproveitar a vida, baseando-se nas coisas mais simples, como beber, comer, amar, cantar e dançar. O enredo baseia-se na história dessa amizade entre um personagem escritor e Zorba.
"Meu desejo indiscreto da manhã, de espionar e capturar o futuro antes que nascesse, apareceu-me subitamente como um sacrilégio.
Lembrei-me de uma manhã em que encontrei um casulo preso à casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei algum tempo, mas estava com pressa e ele demorava muito. Enervado, debrucei-me e comecei a esquentá-lo com meu sopro. Eu o esquentava impaciente, e o milagre começou a desfiar diante de mim, em ritmo mais rápido que o natural. Abriu-se o invólucro e a borboleta saiu, arrastando-se. Nunca esquecerei jamais o horror tive então: suas asas ainda não se haviam formado, e com todo o seu pequeno corpo trêmulo corpinho, ela se esforçava para desdobrá-las.
Debruçado sobre ela, eu ajudava com meu sopro. Em vão. Um paciente amadurecimento era necessário, e o crescimento das asas se devia fazer lentamente ao sol; agora era muito tarde. Meu sopro havia obrigado a borboleta a se mostrar, toda enrugada, antes do tempo. Ela se agitou, desesperada, e alguns segundos depois, morreu na palma de minha mão.
Creio que esse pequeno cadáver é o maior peso que tenho na consciência. Pois, compreendo atualmente, é um pecado mortal violar as leis da natureza. Não devemos apressar-nos, nem impacientar-nos, mas seguir com confiança o ritmo eterno."
[Kazantzakis,Nikos. Zorba o grego. Trad.Edgar Flexa Ribeiro e Guilhermina Guinle. RJ Nova Fronteira, 1974, p.151].
***
Em segundo lugar, trago um fragmento do romance O Cristo Recrucificado, em que há a narração de uma história, uma mini história, que fala sobre o sonho da personagem do padre Photis, enquanto velava o corpo assassinado de Manolios, o Cristo:
(O Padre Photis) "Teve um sonho: ele perseguia, em volta de uma árvore verde e frondosa, um pequeno pássaro amarelo, uma espécie de canário; a perseguição começava quando era ainda bem criança; os anos se passavam, ele crescia, tornava-se rapaz, depois homem feito; os cabelos e o bigode, a princípio negros como azeviche, embranqueciam pouco a pouco; ele envelhecia e continuava a perseguir o pássaro amarelo, e este, voando de galho em galho, cantando, escapava-lhe sempre...
Esse sonho não durou mais que um relâmpago; porém, quando o Padre Photis, sobressaltado, abriu os olhos, teve a impressão de ter vivido milhares de anos e perseguido há milhares de anos, sem nunca se cansar, com um impulso sempre renovado, um pequeno pássaro inatingível, que parecia um canário. Mas, no fundo de si mesmo, o Padre Photis sentia que aquele pássaro amarelo – que ora assobiava zombeteiro, ora cantava com êxtase, a cabeça voltada para o céu – não era um canário.
Kazantzakis, Nikos. O Cristo recrucificado. São Paulo:Nova Fronteira/Círculo do Livro, s/d, [Tradução de Guilhermina Sette], p.415.
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Em terceiro lugar, vou ler parte de uma entrevista, em que perguntavam a Kazantzakis como era o seu processo criativo, em quê se baseava para ter as idéias para os enredos ou a inspiração para as poesias. Ele, como todo homem sábio, falou através de uma parábola:
"Talvez vocês já tenham visto como o bicho-da-seda tece o seu casulo. Ele devora as folhas da amoreira com avidez durante cerca de um mês. Atinge o comprimento de um dedinho e bruscamente para de comer. De marrom acinzentado tornou-se amarelado; o organismo dele é a sede de uma profunda transformação: a pele fosca tornou-se transparente, as entranhas viraram seda. Ele começa a oscilar a cabeça de um lado para o outro, muito lentamente: um fio quase invisível sai-lhe da boca e a construção do casulo começa. Em alguns dias essa casca é tecida com uma segurança infalível. Ele se fecha nela, em forma de crisálida, e espera a primavera. Então faz um buraco na sua tumba e dali sai uma borboleta branca com olhinhos negros. Sinto-me como um bicho-da-seda quando escrevo um livro. A razão, o racional, não desempenha m ais o papel principal. Não faço planos, eles são feitos sem que eu saiba. Não me preocupo onde encontrar as aventuras de meus personagens. Cada manhã, ao começar o trabalho, não sei o que vou escrever. Mas não me preocupo, pois sei, inconscientemente, que tudo está pronto dentro de mim. Só tenho que extraí-lo.".
[Kazantzakis Nikos: entrevista a Pierre Sipriot, Radio France, 1957 - trad. do francês feita por Silvia Ricardino].
Ιθάκη
Σὰ βγεῖς στὸν πηγαιμὸ γιὰ τὴν Ἰθάκη,
νὰ εὔχεσαι νά ῾ναι μακρὺς ὁ δρόμος,
γεμάτος περιπέτειες, γεμάτος γνώσεις.
Τοὺς Λαιστρυγόνας καὶ τοὺς Κύκλωπας,
τὸν θυμωμένο Ποσειδῶνα μὴ φοβᾶσαι,
τέτοια στὸν δρόμο σου ποτέ σου δὲν θὰ βρεῖς,
ἂν μέν᾿ ἡ σκέψις σου ὑψηλή, ἂν ἐκλεκτὴ
συγκίνησις τὸ πνεῦμα καὶ τὸ σῶμα σου ἀγγίζει.
Τοὺς Λαιστρυγόνας καὶ τοὺς Κύκλωπας,
τὸν ἄγριο Ποσειδῶνα δὲν θὰ συναντήσεις,
ἂν δὲν τοὺς κουβανεῖς μὲς στὴν ψυχή σου,
ἂν ἡ ψυχή σου δὲν τοὺς στήνει ἐμπρός σου.
Νὰ εὔχεσαι νά ῾ναι μακρὺς ὁ δρόμος.
Πολλὰ τὰ καλοκαιρινὰ πρωινὰ νὰ εἶναι
ποῦ μὲ τί εὐχαρίστηση, μὲ τί χαρὰ
θὰ μπαίνεις σὲ λιμένας πρωτοειδωμένους.
Νὰ σταματήσεις σ᾿ ἐμπορεῖα Φοινικικά,
καὶ τὲς καλὲς πραγμάτειες ν᾿ ἀποκτήσεις,
σεντέφια καὶ κοράλλια, κεχριμπάρια κ᾿ ἔβενους,
καὶ ἡδονικὰ μυρωδικὰ κάθε λογῆς,
ὅσο μπορεῖς πιὸ ἄφθονα ἡδονικὰ μυρωδικά.
Σὲ πόλεις Αἰγυπτιακὲς πολλὲς νὰ πᾷς,
νὰ μάθεις καὶ νὰ μάθεις ἀπ᾿ τοὺς σπουδασμένους.
Πάντα στὸ νοῦ σου νά ῾χεις τὴν Ἰθάκη.
Τὸ φθάσιμον ἐκεῖ εἶν᾿ ὁ προορισμός σου.
Ἀλλὰ μὴ βιάζεις τὸ ταξίδι διόλου.
Καλλίτερα χρόνια πολλὰ νὰ διαρκέσει.
Καὶ γέρος πιὰ ν᾿ ἀράξεις στὸ νησί,
πλούσιος μὲ ὅσα κέρδισες στὸν δρόμο,
μὴ προσδοκώντας πλούτη νὰ σὲ δώσει ἡ Ἰθάκη.
Ἡ Ἰθάκη σ᾿ ἔδωσε τ᾿ ὡραῖο ταξίδι.
Χωρὶς αὐτὴν δὲν θά ῾βγαινες στὸν δρόμο.
Ἄλλα δὲν ἔχει νὰ σὲ δώσει πιά.
Κι ἂν πτωχικὴ τὴν βρεῖς, ἡ Ἰθάκη δὲν σὲ γέλασε.
Ἔτσι σοφὸς ποὺ ἔγινες, μὲ τόση πεῖρα,
ἤδη θὰ τὸ κατάλαβες οἱ Ἰθάκες τὶ σημαίνουν.
Ítaca
(tradução Aspasia Papazanakis)
Quando partires para Ítaca,
Deseja que seja longo o caminho,
rico em aventuras e conhecimentos.
Não temas os Lestrigões nem os Cíclopes,
nem a cólera de Possêidon.
Nunca os encontrarás em teu caminho,
se mantiveres teu pensamento elevado,
e se não deixares tua alma e teu corpo serem tocados
por emoções indignas.
Não encontrarás os Lestrigões nem os Ciclopes,
nem o selvagem Possêidon,
se não os trouxeres dentro de ti mesmo,
se teu coração não os erguer à tua frente.
Deseja que seja longo o caminho.
Que numerosas sejam as manhãs de verão
Nas quais, com satisfação e com alegria,
entrarás em portos que conhecerás pela primeira vez.
Visita as lojas fenícias
e compra suas belas mercadorias,
madrepérola e coral, âmbar e ébano,
e mil tipos de perfumes sensuais.
Compra o mais que puderes destes inebriantes perfumes.
Visita muitas cidades egípcias,
para que aprendas avidamente com seus sábios.
Tem sempre Ítaca em tua mente.
Chegar lá é teu destino.
Mas não te apresses na tua viagem.
Melhor será que ela dure muitos anos
e que, velho enfim, chegues na ilha,
rico com tudo que ganhastes no caminho,
sem esperar que Ítaka te desse riquezas.
Ítaca te deu a (mais) bela viagem.
Sem ela tu não terias te posto a caminho.
Mais que isto, ela não pode te dar.
Se a achares pobre, Ítaca não te iludiu.
Sábio assim como te tornastes com tantas experiências,
Enfim compreenderás o que significam as Ítacas.
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