ARETÉ

09.01.2023 -

O Núcleo de Estudos Clássicos da Universidade Federal de São Paulo e o Centro de Estudos Helênicos Areté convidam para a conferência ONTOLOGIA: QUESTÕES ABERTAS E “SUGESTÕES” ARISTOTÉLICAS

Palestrante Simone Seminara

Um dos fenômenos mais importantes da filosofia contemporânea é a redescoberta, por parte dos filósofos analíticos, dos assuntos de ontologia e metafísica clássica. De modo muito geral, pode-se dizer que a ontologia é a disciplina que se ocupa de estabelecer quais itens e quais categorias temos de admitir para dar conta do mundo que nos circunda. Nesta palestra, Simone Seminara introduz os principais aspectos do debate contemporâneo sobre três grandes assuntos de pesquisa – (1) existência; (2) universais; (3) objetos materiais –, comparando as diferentes posições defendidas em âmbito analítico com aquelas sustentadas pelo filósofo ao qual tais posições ligam-se mais o menos conscientemente e/ou criticamente: Aristóteles.

Aristóteles.

(1) Existência: O modo por meio do qual no debate contemporâneo a questão sobre a natureza da existência é abordada consiste em perguntar se a existência é ou não uma propriedade. (a) Afirmar que a existência é uma propriedade significa que há um dado domínio de objetos e que alguns desses objetos têm a propriedade de existir (e, então, existem) e que outros desses objetos não têm a propriedade de existir (e, então, não existem). Pelo contrário, (b) negar que a existência seja uma propriedade significa que não faz muito sentido falar de coisas que são, mas não existem. Filósofos como Meinong defendem a primeira posição. Filósofos como Quine defendem a segunda posição. Uma terceira posição (c) é defendida por Ryle, segundo o qual a existência é uma noção relativa. O verbo “existir” tem sentidos diferentes se aplicado a coisas de tipos ou gêneros diferentes. De modo sintético, para Aristóteles, em primeiro lugar, “ser” significa “existir” e, por essa razão, não é possível admitir objetos inexistentes, a saber, que são, mas não existem. Em segundo lugar, a noção de existência não é absoluta, mas relativa, na medida em que existir significa coisas diferentes para coisas de tipo diferente.

(2) Universais: Tradicionalmente, são três os argumentos em favor da existência dos universais: (a) os universais permitem explicar como é possível duas ou mais coisas terem as mesmas características (argumento ontológico); (b) só admitindo os universais podemos dar conta de alguns importantes aspectos semânticos, tais como a predicação, a saber, a estrutura sujeito-predicado e a referência dos termos abstratos (argumento semântico); (c) as leis naturais, que explicam algumas regularidades fundamentais do mundo físico, são conexões entre tipos de eventos ou coisas e as conexões entre tipos de coisas são conexões entre universais (argumento científico-normativo). No debate contemporâneo, posições realistas acerca dos universais são defendidas por filósofos como Russell e Armstrong. Enquanto ser realista significa admitir a existência de propriedades universais, há duas maneiras de ser ‘não-realista’: (a) negar que propriedades existem ou (b) admitir a existência de propriedades, mas insistir sobre o fato que são particulares e não universais. No debate contemporâneo, a primeira posição (nominalismo austero) é defendida por filósofos como Quine e Sellars; a segunda (particularismo), por filósofos como Williams. De modo sintético, para Aristóteles os universais são constituintes ontológicos dos indivíduos que os instanciam.

(3) Objetos materiais: No debate contemporâneo, é possível distinguir três posições sobre a estrutura dos objetos materiais: (a) a teoria neoaristotélica da substância; (b) a teoria do feixe (bundle) de propriedades; e (c) a teoria do substrato. As teorias neoaristotélicas da substância, defendidas por filósofos como Wiggins e Loux, são teorias não reducionistas, na medida em que afirmam que os objetos materiais são entidades ontologicamente primitivas. Independentemente de quão complexa seja a estrutura das substâncias ou em quantas partes as substâncias são divisíveis, as substâncias não são redutíveis a entidades mais fundamentais. A teoria do feixe de propriedades, defendida por filósofos como Goodman, afirma que um objeto é redutível ao complexo de suas propriedades. Assim como os teóricos do feixe, os teóricos do substrato – filósofos como Sider – também são reducionistas, na medida em que pensam que um objeto pode ser construído a partir das entidades mais fundamentais. Esses filósofos, todavia, afirmam que a estrutura metafísica de um objeto não se reduz ao complexo de suas propriedades, mas necessita de mais um componente, a saber, de um substrato que é o verdadeiro portador das propriedades do objeto. De modo sintético, a posição defendida por Aristóteles, retomada por filósofos contemporâneos não reducionistas acerca da natureza dos objetos materiais, desenvolve-se a partir da refutação de posições que são comparáveis seja à teoria do feixe de propriedades seja, embora mais problematicamente, à teoria de um substrato entendido como portador de propriedades.
30 NOVEMBRO  SÁBADO 2019

10h às 13h  GRATUITO

INSCRIÇÕES PARA EMISSÃO DE CERTIFICADO (a partir de 18/11)
https://sistemas.unifesp.br/acad/proec-siex/

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