ARETÉ

22.02.2016 -

O Cisma entre a Igreja do Oriente e Ocidente

Por Padre Antonios Dimitriadis *

Com a expressão cisma queremos dizer a ruptura, a separação da igreja cristã ocorrida em 1054, que durante todo o primeiro milênio era una, indivisível. Foi um acontecimento profundamente triste e porque não dizer em palavras simples que ele significou a divisão da Igreja em duas partes: a parte oriental e a parte ocidental. 

Quando aconteceu, o Papa de Roma era o Leão IX e o Patriarca de Constantinopla era Miguel Cerularius. Foi em julho de 1054 quando foram lançadas diversas maldições anátemas de ambas as partes. Parece ter ocorrido de maneira repentina, mas, na realidade, foi se desenvolvendo em diversas situações e, naturalmente, com o passar dos anos, o cristianismo do oriente e do ocidente acabaram criando tradições completamente diferentes. O cisma sofreu influencia de diversos fatores políticos, econômicos, culturais mas o motivo básico não tinha um cunho laico, mas sim teológico. O que ocorreu, portanto, foi um distanciamento gradual entre o Oriente e o Ocidente.
           
O teólogo João Karmiris afirma que, as raízes do cisma chegam até a era pré-cristã de domínio dos romanos na Grécia, e acrescenta ainda que, no século 4, ou seja, em 330 d.C. a capital do Império Romano foi transferida por Constantino o Grande, de Roma para a Nova Roma que se chamou mais tarde Constantinopla. A distância geográfica também contribuiu para este distanciamento, p.ex. eram realizadas Sínodos locais no Oriente sem o conhecimento dos ocidentais, e vice versa. Imaginem que naquela época não havia televisão para que as notícias pudessem ser transmitidas em tempo real.
           
Outro fator que impulsionou o distanciamento entre as duas partes foi o problema do idioma, que se intensificava a cada dia. A partir do século 4 os cristãos latinos não entendiam e não sabiam ler o idioma grego. E além disso, a distinção no tratamento das diversas heresias e facções, resultou numa tradição totalmente diferente para ambos os lados.
           
Neste cenário ocorre ainda a coroação do Carlos Magno ou Carlos o 1º. Ele era o Rei dos Francos desde 768. Tornou-se também o Rei da Itália em 774 e, a partir de 800 tornou-se o primeiro Imperador da Europa Ocidental. Seu pai era Pepino, o Breve, que mantinha ótimas relações com o Papa. Carlos Magno seguiu os mesmos passos políticos do seu pai e tornou-se o Protetor do Papa. Fez campanhas contra quase todos os povos da Europa e rumo ao oriente, tornando -os  cristãos “sob pena de morte”. Em 800 foi coroado imperador pelo Papa Leão o 3º no dia de Natal na antiga Catedral de São Pedro. Foi aclamado o Pai da Europa pois conseguiu unificar uma grande parte da Europa Ocidental pela primeira vez após o Império Romano.

Ambicionou promover um novo império reivindicando o nome e a glória do império romano do oriente. Eles pretendiam a rejeição da ortodoxia e a criação de um cristianismo diferente que estava sendo planejado pelos conselheiros de Carlos Magno, p.ex. batismo por aspersão, celibato obrigatório do clero, comunhão não deveria mais ser feita pelo cálice entre outros. Estes fatos mais o filioque abrangem a primeira fase do cisma entre o oriente e o ocidente. Carlos Magno morre em 814 após ter governado como Imperador durante 13 anos. Foi sepultado em Aachen da atual Alemanha. Seu trono foi sucedido pelo seu filho Ludovico, o Pio.
           
Até meados do século 11 a Igreja Papal não pôde exercer nenhuma influencia no destino da Cristandade. Os monastérios e o clero eram dirigidos por lideres laicos, o que causou uma dissolução dentro do mundo monástico que levou à livre escolha dos Superiores dos Monastérios e ainda à isenção de impostos sobre o dízimo. Estes monastérios, no entanto, ficariam sob a proteção da Santa Sé. Ao mesmo tempo havia o apoio dos Capetíngios (Dinastia Real da França). Dentro deste contexto, o Papa Leão IX foi chamado por Henrique III para ser entronado Papa, não aceitando esta convocação, mas sendo entronado, mais tarde, apenas por conclave reunida pelo Clero e eleito pelo povo Romano. Este fato lhe conferiu um grande prestígio.
           
Neste ponto vale mencionar que: o último Papa ortodoxo renunciou em 1009 e durante as 4 décadas seguintes foram nomeados apenas Papas Romanos, mas o Presbítero Ioannis (ou João) Romanidis (um dos maiores Teólogos do século 20) constatou que: os Papas são provenientes de famílias estritamente germanófilas e, portanto, introduziram o filioque na Igreja de Roma a partir de 1014. Mais tarde, a Igreja Papal de domínio germânico canonizou o Rei Henrique 2º, que havia alcançado a expulsão definitiva dos ortodoxos romanos do trono Papal e a introdução do filioque. Foi assim que, após 200 anos de tentativas de introduzir o filioque na igreja de Roma, finalmente a política germânica conseguiu seu êxito.
           
Mas, durante os acontecimentos de 1046 a 1049, em Roma, devido ao confronto dos germanófilos e dos resistentes, em 1046 havia 3 Papas ocupando o trono, simultaneamente. O Rei Alemão Henrique foi até Roma e expulsou os 3 Papas e entronou o seu eleito que, todavia, faleceria um ano mais tarde. Henrique entronou um segundo Papa, que viveu apenas 23 dias. Há suspeitas de que estes dois Papas foram vítimas da oposição romana contra os alemães. O terceiro Papa entronado pelo Rei Henrique foi seu primo de Leão IX, já mencionado anteriormente, que teve melhor sorte. Foi durante os dias de seu papado que a missão crucial de Humberto vai até Constantinopla em 1054.            
           
O Cardeal Humberto era muito próximo ao Papa que o havia designado Bispo da Sicília ainda que, naquela época a Sicília pertencesse à Igreja de Constantinopla. Humberto então propunha as reformas referentes: 1) à primazia litúrgica e canônica do Papa, 2) à independência do poder espiritual sobre o poder laico e 3) à soberania do poder do espírito sobre os poderes mundanos. Colocou o clero monástico e o clero episcopal em oposição, trazendo como tema central a elevação do papel do Papa. Os argumentos utilizados para a renovação da Igreja estavam relacionados ao poder do Papa, e o Papa Leão IX foi o primeiro reformista cluníaco. Todo este movimento foi chamado de reforma de Cluny por causa do Monastério da cidade de Cluny na França que foi o primeiro a estar sob a autoridade e proteção da Santa Sé. A ideologia cluníaca foi muito difundida também na excomunhão do Patriarca Miguel Cerularius e na reprovação à Igreja Ortodoxa sob acusação de simonia – que foi abolida a princípio o Mega Vasileios, Arcebispo de Cousaria (nascido em 330) com montanhas de cartas enviadas contra a Simonia, ou seja, a entronização de sacerdotes por meio de suborno). Assim, a Simonia foi a ponta de lança para as reformas cluníacas. Como pessoa muito próxima ao Papa Leão IX, o Cardeal Humberto apoiou e defendeu o renascimento do Papismo e suas reformas, quaisquer que fossem e a qualquer custo.
           
Era sábado à tarde do dia 16 de julho de 1054. Os cronistas daquela época descrevem de maneira elegante, os fatos ocorridos naquele dia, que marcaram o Cisma entre a Igreja Ortodoxa e Católica Romana. Na Igreja de Santa Sofia quem celebrava a missa da tarde era o Patriarca Miguel Cerularius. A devoção da missa foi interrompida pela entrada de um jovem nobre e sua comitiva. O Patriarca Cerularius e os presentes espantados com esta súbita entrada, e até que se recobrassem, assistem ao enviado do Papa de Roma, Leão IX,  Cardeal Humberto  deixar sobre o altar um rolo de pergaminho com o lacre Papal.
           
O Patriarca abre o rolo do pergaminho e lê o seu conteúdo:
“Aquele que contrariar a fé e o sacrifício da Cátedra Romana e Apostólica, será excomungado, ainda que seja chamado de ortodoxo, mas utilize o pão fermentado será considerado o novo anticristo.” O Papa Leão IX havia utilizado expressões bastante graves amaldiçoando o Patriarca Miguel e todos os seus seguidores chamando-os de hereges, qualificando-os de “comedores de pão fermentado” que era o nome dado pelos católicos romanos aos ortodoxos, porque utilizavam fermento no pão da Eucaristia Sagrada.
           
Alguns dias depois o Patriarca Miguel teria escrito a resposta àqueles que o haviam excomungado. Em 24 de julho de 1054 ele convoca um Sínodo em que amaldiçoa e excomunga aqueles que haviam escrito a Carta da Igreja do Ocidente e todos os seus seguidores. Os Patriarcas de Jerusalém, da Antioquia e da Alexandria são informados sobre estes acontecimentos e se unem a ele, aguardando os desdobramentos, fiéis à Ortodoxia. O grande cisma, a esta altura, já é um fato concreto e suas consequências, teológicas, eclesiásticas, políticas, diplomáticas, até hoje dificultam as relações entre a Igreja do Oriente e do Ocidente.
           
Humberto foi aquele que assumiu a reforma de Cluny e o desfecho do Cisma e tomou a iniciativa de proceder à excomunhão depositada na Santo Altar de Santa Sofia em Constantinopla em julho de 1054, uma vez que o Papa Leão IX havia falecido em abril daquele ano, foi ele Humberto que traduziu para o latim, o texto escrito em grego da Carta do Arcebispo de Ácrida enviada ao João, Bispo de Trani, na Apúlia, com objetivo de salvaguardar o cristianismo do Sul da Itália dos costumes litúrgicos latinos e para que pudessem ler a carta ao Papa e a todo o clero para que se corrigissem. Grande ênfase foi dada por Leão da Ácrida à não utilização do pão fermentado para a comunhão. Esta questão foi denominada de grave conflito teológico detonado entre os ortodoxos e os católicos romanos durante o século 11 relativo ao tipo de pão (fermentado ou ázimo) que deveria ser utilizado no mistério da Santa Eucaristia.
           
Esta diferença teológica por mais que pareça irrelevante, exerceu um papel importante para o cisma das duas igrejas. (Jesus Cristo na Santa Ceia ofereceu a eucaristia com pão fermentado pascal e não pão ázimo judaico). Esta questão foi tão importante quanto a questão do Filioque. O Filioque, é claro, foi e continua sendo uma divergência importante dentro da Igreja em relação ao Espírito Santo.
           
O símbolo da fé foi escrito na 1ª e 2ª Sínodos Ecumênicas (325, 381), confessa a fé “E ao Espírito Santo, Senhor que dá a vida, o Pai emana, e, em seguida as palavras de Cristo que diz: “Mas, quando vier o Consolador …, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim”. (João 15:26). Em 431 a 3ª. Sínodo Ecumênica proibiu expressamente qualquer acréscimo ou exclusão do Símbolo Sagrado da Fé.
           
Os ocidentais que queriam entender a essência de Deus pela razão, distorceram as palavras de Cristo, desprezando as Sínodos Ecumênicas e acrescentando ao Símbolo da Fé, depois da frase: “…  que emana do pai …” a palavra filioque (e do Filho) que significa que: O Espírito Santo emana também do Filho. Com esta frase “ e do Filho também” criam-se problemas teológicos insolúveis e deformações na Fé e na vida da igreja e, mais especificamente, na Santa Trindade, onde passamos a ter duas autoridades, ou seja são 2 Senhores Deuses (Pai e Filho) e um secundário, o Espírito Santo, e desta forma se dissolve o Dogma da Trindade. E o Deus tríade do Papa não é verdadeiro, mas sim uma criação e para ser mais exato binário. 

O Espírito Santo é posto de lado e é subjugado da vida da Igreja e a dependência, por fim, do Espírito Santo pelo Filho, conferiu a possibilidade à Roma, de apoiar com muito prestígio o fato de, somente o Papa, como representante de Cristo, poder dispor das graças concedidas pelo Espírito Santo à Igreja. O Patriarca Miguel Cerulário enviaria uma carta (epístola) ao Patriarca Pedro de Antioquia, enumerando as diferenças que dividiam as duas igrejas.

1) O Filioque, 2) O celibato obrigatório dos clérigos, 3) O jejum do sábado, 4) A abolição do jejum na primeira semana de jejum da Grande Quaresma, 5) A utilização da hóstia na Santa Eucaristia, 6) A celebração do batismo por imersão na água, 7) Encher a boca daquele que é batizado com sal. 8) A abolição do jejum da quarta-feira com consumo de carne e na sexta-feira com consumo de laticínios e ovos. 9) A evocação durante a missa da frase “Aos Santos, ao Senhor Jesus Cristo, à Graça de Deus Pai pelo Espírito Santo, 10) O hábito dos latinos de se rasparem e dos bispos usarem anel. 11) E ainda, o fato dos latinos não reverenciarem os restos do santos e nem seus ícones, enquanto outros não honram os Sacerdotes gregos da Igreja. Assim o Cisma do século 11 chegou a se tornar um verdadeiro combate sobre os ritos das celebrações litúrgicas.
           
Neste ponto, gostaria de voltar aos fatos daquele sábado de 16 de julho de 1054. Foi então formada uma comissão pelo Cardeal Humberto, com Frederico de Lorraine, primeiro secretário do Papa e com Pedro Arcebispo de Amalfi (Ducado do Sul da Itália), que iria até Constantinopla. Decidiram evitar contato com o Patriarca e ir diretamente ao Imperador. Esta delegação levava duas cartas (epístolas), uma para o Patriarca e outra para o Imperador. A primeira carta falava sobre o título ecumênico, e o fato de estar envolvido na parte interna da Igreja Latina, enquanto duvidava da regularidade de sua escolha. Na segunda carta expressava seus descontentamentos em relação à conduta do Patriarca, ameaçando com retaliação e pedia todo auxílio possível àquela comissão de Papas.
           
Esta delegação teve um encontro com o Patriarca, entregou a carta a ele e partiu, pois o Patriarca os recebeu com muita frieza, uma vez que eles não o reverenciaram como deveriam. Em 15 de abril, morre o Papa Leão IX e assim, todos os seus representantes perdem, automaticamente, qualquer prestígio legal, conforme previsto no Cânone regimental. Era necessário eleger um novo Papa para que fosse conferido novo poder. A comissão, no entanto, continuava seus contatos, desta vez com o Imperador que os orientou a permanecerem em Constantinopla.
     
Assim a Representação Papal tomou força e publicou as acusações latinas contra a igreja do oriente. A estas acusações o Monge Nikitas Stithatos, escritor e biógrafo do Patriarca Miguel Cerularius do Mosteiro Stoydiou, foi quem enviou as respostas. Humberto responde com xingamentos. Constantino IX não queria por em risco a sua aliança com Roma, interferindo e chamando Nikitas Stithatos para se retratar e pedir perdão. Isto deu a Humberto ainda mais força para expor e promover ainda mais sua posição em relação ao filioque, e tudo isso acontecia sem nenhuma reação por parte do Patriarca Miguel Cerularius. E assim chegamos aos fatos do sábado de 16 de julho de 1054 que, como já dissemos, aconteceu no momento em que era celebrada a missa vespertina, quando o Cardeal Humberto e sua comitiva adentraram a Catedral de Santa Sofia e deixaram sobre o altar a carta que excomungava o Patriarca Miguel Cerularius e o Leão de Ácrida.
           
Ao deixarem a Igreja, o Diácono da Igreja corre até eles segurando a Bula Papal e pede que eles voltem atrás nesta decisão, mas eles se negam e o Diácono a atira na rua. 
           
A questão é que, será que tudo o que ocorreu naquele dia foi uma ação de Humberto como enviado do Papa Leão IX ou eles agiram por conta própria, uma vez que esta missão não saiu de Roma, mas sim de Benevento (município e cidade do norte de Nápoles) – uma vez que suas credencias eram falsas, o que ficou claro pelos lacres dos documentos.
           
Até mesmo pelo tom da carta não demonstrava que havia sido ditada pelo Papa Leão IX, mas sim pelo Cardeal Humberto, mesmo que por ordem do Papa. Esta era a suspeita de Miguel Cerularius e as pesquisas atuais confirmam esta suposição. E ainda, até que ponto ele estava autorizado a impor este anátema. Para o professor Ioannis Karmiris eles agiram com base em poder especial e ampla autorização, mas como o Papa havia falecido neste ínterim em 13 de abril de 1054, houve uma complicação ainda maior. Os pesquisadores católicos romanos estão divididos porque, parte aceita que, com base na autorização dada por Leão, eles poderiam agir como agiram, enquanto outra parte rejeitava totalmente esta eventualidade. Mas, por fim, os sucessores de Leão ratificaram a excomunhão, formalmente, que foi considerada legítima.
           
A excomunhão se referia ao Patriarca Miguel Cerularius, ao Arcebispo de Acridas Leão e ao Patriarca Sakelarios Nikiforos (Sakelarios era tesoureiro da Grande Catedral de Santa Sofia, onde eram mantidos os documentos e os títulos de propriedades do Patriarcado. Era um cargo alto). A excomunhão se estendia ainda a  todos os clérigos da Igreja de Constantinopla e aos demais patriarcados ortodoxos que estavam em consonância com o Patriarca Miguel Cerularius. Desta maneira se concentravam ao clero ortodoxo, pois eram eles que exerciam estes atos. Se estendia ainda a todos os cristãos ortodoxos, apesar de haver objeções quanto a eles.
           
Após aprovação do Imperador foi imposta excomunhão por parte da Igreja de Constantinopla pelo Patriarca Miguel Cerularius e sua Sinodo de Constantinopla. Nesta imposição de excomunhão fizeram parte o povo de Constantinopla, se considerarmos que foi feita com a aprovação do Imperador – Líder do País, e foi proclamada perante os representantes do país, sendo esta proclamação repetida perante o povo.
           
Foi proclamado o anátema da excomunhão Papal e todos aqueles que participaram da sua redação, envio e apresentação. O Papa Leão IX não foi incluído, nominalmente, neste anátema pois Miguel Cerularius não tinha certeza se ele havia sido o verdadeiro mandante de Humberto, e todos aqueles que haviam se juntado a ele e, e é claro que não incluía todos os latinos.
O afastamento das duas igrejas causou um estranhamento entre os fiéis do ocidente e os do oriente, cultivando ódio entre os fiéis do Papa, de um lado, e os fiéis do Patriarca, de outro lado. As relações entre os países francos e o Império Bizantino depois do cisma definitivo não foram nunca mais recuperadas. É certo que desde 1054 até a tomada de Constantinopla em 1453 foram feitas inúmeras tentativas para a reunificação das igrejas. Os imperadores, principalmente, os Paleólogos esperavam ajuda do ocidente para enfrentar os Seltzukos turcos e na sequencia os otomanos.

A primeira tentativa de maior relevância para reunificar as duas igrejas partiu do Concílio de Lyon em 1274, onde o Imperador Miguel 8º Paleólogo quis reunificar as duas igrejas para fortalecer a política e o exército do Império Oriental, que corria perigo nas mãos dos turcos. As demandas do Papa e as reações que elas causaram, impediram esta reunificação.

Uma segunda tentativa foi feita pelo Concilio dos Ferrara-Florença (1438-1439). Neste concilio participaram o Imperador João VIII Paleólogo. Muitos assinaram a favor da união das igrejas, pressionados por vários meios legais e escusos. Houve reação apenas de poucos, sendo o primeiro deles Marcos, dito Eugênico, Bispo de Éfeso. Os Patriarcados do Oriente estavam de acordo com Marcos de Éfeso,  considerando que a união representaria mais uma subordinação ao ocidente do que a própria unidade, e assim o ato foi cancelado.

Passados cerca de 910 anos as relações entre a Igreja do Oriente e do Ocidente começaram a se normalizar. Em 1964, o Patriarca Ecumênico da época, Atenágoras I, e o Papa Paulo VI, encontraram-se no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, onde Jesus fez a última oração, antes de ser preso e crucificado. Foi assim, sob as oliveiras  centenárias, que o Patriarca Atenágoras e o Papa Paulo fizeram reverencia à Paz. Assim começa a quebrar-se o gelo entre os ortodoxos e os católicos romanos. No ano seguinte o Concílio do Vaticano adota uma declaração comum entre o Patriarca e o Papa para que os anátemas excomunhões feitas em 1054 fossem retiradas, e por isso estes dois homens são considerados os fundadores do Diálogo Teológico bilateral da Ortodoxia e do Catolicismo.

Em 7 de dezembro de 1965 foi realizada a retirada recíproca dos anátemas das duas igrejas no final do Concílio do Vaticano. Em julho de 1967 o Papa VI foi até Fanari em visita oficial e o Patriarca Atenágoras retribuiu a visita em outubro do mesmo ano. Esta atitude foi perpetuada pelos sucessores até hoje. Em janeiro de 2004 o Patriarca Bartolomeu enviou uma carta ao já doente e idoso Papa João Paulo II. dizendo:  Meu pensamento está voltado para Vossa Santidade em gratidão à santa memória daqueles que tiveram a visão de uma fé comum e da união dos mistérios das nossas igrejas irmãs” . Em junho deste mesmo ano o Patriarca Ecumênico Bartolomeu vai até Roma e comemora junto com o Papa João Paulo II o dia de comemoração dos  Apóstolos Pedro e Paulo. Assim, Fanari e o Vaticano começam a dar pequenos passos, mas firmes, em direção a uma reaproximação.

O passo seguinte seria a visita do Papa à Constantinopla, mas com sua saúde debilitada, só conseguiu manter  o contato por meio de cartas. A morte do Papa João Paulo II em abril de 2005 torna-se o marco do final de um período importante para a Igreja Católica Romana.
O sucessor do Papa João Paulo II, Bento XVI parece decidido a dar continuidade à reaproximação entre os ortodoxos e os católicos romanos fazendo uma visita a Fanari  e ao Patriarcado Ecumênico, onde assina juntamente com o Patriarca uma declaração comum, a favor da tentativa de continuidade de diálogo e aproximação entre as duas igrejas. E assim chegamos até a renúncia de Bento XVI e à eleição do Papa Francisco.

Em 24 de maio de 2014, um domingo, houve um encontro em Jerusalém por ocasião do 50º ano de comemoração do encontro histórico realizado pelos seus antecessores, o Patriarca Atenágoras e o Papa Paulo XVI. Este encontro foi realizado após introdução do Patriarca Bartolomeu ao recém-eleito Papa Francisco, em março de 2013.
No Congresso Internacional de Ciências realizado nos dias 21 a 23 de abril de 2015, em Salônica, com o apoio da Pré-Reitoria da Faculdade de Teologia da Universidade Aristoteleio de Salônica, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu e o Papa Francisco tornam-se modelo de lideres religiosos do século 21.

O Metropolita de Arcalochorios em Kastelios e Viannos, Professor da Faculdade de Teologia de  Salônica, sr. Andreas Nanakis, apresentou alguns ensaios que tornam o Patriarca Bartolomeu uma personalidade mundial, fazendo uma menção especial aos encontros que o Patriarca teve com o Papa Francisco no Vaticano, em Jerusalém e em Fanari e salientou a dedicação do Patriarca Ecumênico ao diálogo entre as duas igrejas e à intenção de unificação delas. O sr. Nanakis falou ainda sobre o firme propósito do Primaz da Ortodoxia ao citar as seguinte frase dele: “a guerra travada em nome da religião, é uma guerra contra a religião”, destacando que a preocupação sempre foi e continua sendo unir o oriente ao ocidente, promover o avanço do diálogo inter-religioso e intercultural para a construção de uma mútua confiança, amor e respeito e a difusão da mensagem de unidade da Igreja Mãe.

O Professor do Instituto de Teologia Ecumênica Ortodoxa e Professor do Departamento de Teologia Católica da Universidade de Graz, na Áustria, sr. Pablo Arcright falou sobre a tentativa do Papa Francisco de expandir a igreja para fora de seu próprio cerne, e de aproximá-la das pessoas, de difundir a alegria do Evangelho e de estar solidária e compassiva com todos os necessitados. A igreja deve sair de seu núcleo e ir até as periferias não apenas geograficamente, mas nas periferias relacionadas à existência, aos mistérios do pecado, do sofrimento e da injustiça, da ignorância e da indiferença em relação à religião, da infelicidade. Esta é a mensagem central que o Pontífice pretende disseminar, segundo o Professor Arcright. Ele cita ainda que: “a compaixão do Bispo de Roma é a característica que mais toca as pessoas e o torna, especialmente, amado por todos.
 
Caros,
A questão do cisma é imensa e eu precisaria escrever muitas páginas ainda. Tentei passar uma ideia dos fatos ocorridos naquela época e dar uma noção geral sobre o cisma.
Desejo que o Senhor lhes conceda saúde, força, espírito de luta e amor a todos vocês e suas famílias.

* Padre Antonios é da Igreja Ortodoxa Grega localizada no Brás. 
 

 

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