ARETÉ

22.02.2016 -

Trégua e preparação dos atletas

Alberto pediu que sentássemos novamente, o que fizemos, aproveitando a sombra de uma frondosa árvore. Ele anunciou que nos narraria a sequência de uma olimpíada na Antiguidade, e assim o fez, com sua habitual serenidade e entusiasmo.
 
– Vamos narrar uma olimpíada da forma como se supõe que ocorresse no século V a.C., pois, como se sabe, o número de provas, os preparativos e a duração dos jogos variaram durante os mais de 1.200 anos de existência das antigas olimpíadas. Dos primeiros Jogos Olímpicos que se têm registro sabe-se que tinham apenas um dia de duração e que somente mais tarde atingiram cinco dias.
 
Os preparativos começavam muito antes do início dos jogos. Com a antecedência de pelo menos um mês, era declarado o armistício, após o que quaisquer conflitos em curso deveriam ser interrompidos. Cidadãos de Élis, a cidade que organizava os Jogos Olímpicos, designados como arautos, cobriam os quatro cantos do mundo grego anunciando o início do período de  armistício. Eles portavam bastões e coroas de ramos de oliveira. Declarado o armistício, que tinha duração de um a vários meses, era também vetada a aplicação da pena de morte e proibida a entrada de qualquer pessoa armada na região de Élis. Então, todos que assim o desejassem poderiam viajar, atravessando inclusive terras de cidades inimigas, para participar da maior festividade do mundo helênico.
 
– E as pessoas ou cidades infratoras eram punidas? – quis saber Berenice.
 
– Certamente – respondeu Alberto. – As cidades recebiam punições caso houvesse infrações ao armistício dentro de seus territórios ou causadas por seus cidadãos. Pesadas multas eram impostas e a cidade poderia ter sua participação nos jogos suspensa. Há relatos de punições a cidades-estados como Esparta e também aos macedônios de Alexandre, o Grande, por terem  violado as regras do armistício.
 
– Os atletas deveriam chegar a Olímpia com seus treinadores aproximadamente um mês antes do início dos jogos. Eles ficavam hospedados e recebiam instruções sobre as regras das competições, bem como treinamento e alimentação diretamente supervisionados pelos  hellanodíkai, os árbitros apontados entre os cidadãos de Élis. Durante esse período preliminar, também era feita uma triagem dos atletas que participariam das competições, reduzindo-os a um número predeterminado.
 
Dois dias antes do início dos jogos, os atletas, os hellanodíkai e todos os cidadãos de Élis apontados para desempenhar funções reuniam-se e partiam em procissão para Olímpia. A procissão passava pela fonte Piéria, onde eram realizados rituais de purificação e sacrifício, pernoitava nas cercanias e chegava em Olímpia somente no dia seguinte.

* Artigo foi extraido do livro Uma viagem à Grécia: os jogos olímpicos e os deuses, de Stylianos Tsirakis.

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