ARETÉ

18.01.2023 -

POR QUE ARETÉ?

POR QUE ARETÉ?

Por Ivanete Pereira

O termo areté remonta aos imortais poemas Ilíada e Odisseia, de Homero, no bojo dos quais se apresenta vinculado aos valores extraordinários dos heróis louvados nos versos do poeta. No século V a.C., o poeta lírico Píndaro de Tebas, especialmente nas Odes dedicadas aos nobres vencedores do jogos pan-helênicos, reforçará os laços de areté com os valores heróicos, mas também a associará fortemente a valores éticos fundamentais, tendo em vista especialmente a noção de justiça (diké ou δίκη), que lhe é cara. Por volta do século IV a.C., o conceito de areté ganhou força sui generis na cultura grega, com o advento da filosofia socrática, representada por Platão, quando então passou a ser pensado como uma espécie de “antecedente” e “consequente” da realização do homem em sua totalidade mais perfeita, em todos os âmbitos da sua vida. Assim, no campo teórico, a areté deve ser compreendida e pensada à exaustão, e, no âmbito prático, é necessário que seja perseguida, alcançada, à todo custo. Sem nos olvidarmos das Odes de Píndaro, para quem a areté é uma mescla de dom divino com valor ético adquirível, Sócrates, de fato, foi o primeiro grande apologista da areté entre os homens, como, além de Platão, testemunha Xenofonte em sua obra dedicada à memória do mestre. Mais adiante, as noções socrático-platônicas de areté serão herdadas por Aristóteles, que as manterá em relevo em sua Filosofia, alocando-nas especialmente na composição da sua teoria ética.

Traduzida por “virtude” ou “excelência”, areté (ἀρετή) adere aos valores mais elevados, a serem necessariamente cultivados no âmbito da vida humana, com o fito de dirigi-la a pensamentos e ações afins às idéias de beleza, justiça e verdade – a tríade filosófica por excelência, unificada na idéia maior de Bem, que o homem que aspira à sabedoria – sophia (σοφία) – almeja de algum modo alcançar. Esse viés metafísico é, contudo, indissociável da práxis humana em todos os níveis, e a areté, no âmbito prático, é aquilo pelo qual se realiza maximamente, plenamente, os potenciais de cada um; assim como a realização plena desses potenciais é expressão de areté. Por exemplo, na esfera das profissões ou das tekhnai (τέχναι): o homem que ocupa o mais alto posto de um grupo, o governante, somente será um bom regente se dotado e cultor da “areté de governante”, assim como fazer bons e deliciosos pães é prerrogativa do padeiro que possui e cultiva a “areté de padeiro”.

Uma vida dedicada à realização do melhor, é uma vida dedicada à Areté. Dom divino ou valor adquirível, é necessário que a cultivemos tal como cultivamos – ou cultivaríamos – jardins.

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