07.12.2013 - EventosLiteratura
Apresentação Vicente de Arruda Sampaio
O célebre poema de Parmênides foi lido, seguindo-se a reconstituição prosódica e rítmica do grego antigo.
Composto em um momento da história grega de profundas mudanças no nível intelectual-espiritual, quando o homem grego deixava os âmbitos da tradição mítico-religiosa para adentrar as terras do pensamento racional, o poema de Parmênides é o grande espelho dessa passagem. Por um lado, em sua forma, ele imita a tradição épica de Homero e Hesíodo, quer seja no uso do hexâmetro, quer seja na inclusão de tópoi como a invocação de deuses. Por outro lado, em seu conteúdo, ele oferece novidades decisivas para o futuro do pensamento ocidental, como a primeira formulação do princípio de não contradição (“o que é, é; o que não é, não é”) e a afirmação da identidade entre ser e pensar (“o mesmo é ser e pensar”).
Como que num rito de evocação, a récita buscou trazer aos presentes um breve sopro dos ares que então animavam aquela que foi possivelmente a maior revolução por que já passou o intelecto humano. Rico momento de crise, em que religião, mito, poesia e pensamento racional distinguiam-se e confundiam-se ao mesmo tempo.