Na manhã seguinte, visitamos o Museu dos Jogos Olímpicos e depois as instalações da Academia Olímpica Internacional, nas cercanias do santuário de Olímpia. Aprendemos, então, um pouco sobre os Jogos Olímpicos nos tempos modernos.
Na segunda metade do século XIX a Grécia estava, depois de quatro séculos de dominação otomana, construindo as instituições de seu Estado moderno. Houve na época proposições para a retomada dos Jogos Olímpicos. Esboçaram-se algumas iniciativas em Atenas, mas somente no fim do século, com o apoio e o entusiasmo do barão Pierre de Coubertin é que os Jogos Olímpicos modernos foram organizados. O primeiro pronunciamento do barão de Coubertin pelo restabelecimento dos jogos foi na Sorbone em 1892. Dois anos mais tarde foi formado o Comitê Olímpico Internacional (COI). De acordo com a proposta do COI, os jogos seriam celebrados em um país diferente a cada quatro anos. Os primeiros jogos seriam realizados em 1896, em Atenas.
De acordo ainda com as diretrizes do recém-criado COI, seus membros seriam expoentes do movimento olímpico internacional, sendo vetada a sua indicação pelos respectivos governos, para evitar assim a influência de disputas políticas.
A fundação da Academia Olímpica Internacional, ideia de Coubertin, foi levada a cabo em 1949. Suas instalações têm funcionado desde 1961. Nos jardins da Academia havia um monumento dedicado ao barão de Coubertin, dentro do qual encontra-se seu coração embalsamado, trazido à Grécia por sua esposa em 1938, um ano depois de sua morte. Esse foi, sem dúvida, um reconhecimento, à maneira dos antigos, à importante contribuição do barão para o renascimento dos Jogos Olímpicos.
Apreciamos a coleção de pôsteres que recontam visualmente a história dos mais de cem anos dos Jogos Olímpicos modernos, com dados relativos aos atletas vitoriosos de cada uma das Olimpíadas realizadas. De 1896 até hoje, os Jogos Olímpicos deixaram de ser realizados apenas em três ocasiões: em 1916, devido à Primeira Guerra Mundial; em 1940 e 1944, devido aos conflitos da Segunda Guerra Mundial.
O ritual de acender a tocha em Olímpia e transportá-la para a cidade que sediaria os jogos foi estabelecido em 1936. Desde então, um grupo de moças vestidas em estilo antigo acompanha sua líder, que acende a tocha diante do templo de Hera utilizando-se de um espelho côncavo e raios de sol.
A tocha acesa gera fogo no altar em homenagem a Coubertin e segue para a cidade sede dos jogos, passando primeiro por Atenas.
Sentamo-nos nos jardins da Academia Olímpica e tecemos comparações entre os Jogos Olímpicos na Antiguidade e nos tempos modernos. A diferença notável era a participação das mulheres nos jogos modernos.
Observando as tabelas de dados dos jogos modernos, algumas constatações eram inevitáveis: o número de países participantes e de modalidades esportivas disputadas era crescente, assim como a proporção de mulheres que participaram dos jogos. Nenhuma em 1896, quando participaram 200 atletas de 14 países; 19 mulheres num total de 1.200 atletas em 1900; 326 num total de 4 mil atletas em 1936, ou seja, 8% do total; superando o número de 3 mil mulheres num total de mais de 10 mil atletas, ou seja, 30%, em 1996.
Concordamos que, apesar das diferenças, havia uma semelhança importante: o esporte e o atletismo eram a base para a confraternização entre os povos e a celebração de ideais elevados. A característica essencial dos jogos, seja na Antiguidade seja nos nossos dias, é o homem em sua incessante jornada desafiando seus próprios limites e buscando a excelência.
Conversamos um pouco sobre o armistício na Antiguidade, durante os Jogos Olímpicos e a possibilidade de instituí-lo nos dias atuais. Alberto nos informou que a Assembleia Geral da ONU aprovou, por unanimidade, o estabelecimento do armistício durante a realização dos jogos em Atenas em 2004. Soubemos também que existe a proposta da construção de um Centro da Paz Olímpica nessa área que pertence à Academia Olímpica Internacional, para a divulgação e observação do processo de paz durante a realização dos jogos. Alberto nos leu um trecho do discurso de apresentação da proposta à Assembleia Geral da ONU pelo então ministro das Relações Exteriores da Grécia em 2003: “Enquanto os conflitos bélicos não desaparecem, se pudermos ter a paz instaurada durante 16 dias, então, quem sabe, talvez, poderemos conquistá-la para sempre”.
Consideramos que essa foi uma formulação bastante feliz, pois coloca a paz como uma possibilidade real para o mundo e o armistício olímpico como uma pequena, mas vigorosa, realização nesse sentido.